Acabo de ver a imagem do Crucifixo da Igreja Sacre Coeur du Tugeau, no Haiti, exibida pelo Fantástico, programa da Rede Globo. O templo sagrado desabou e restou aquele Crucifixo, quase intacto, grande, erguido, exposto aos olhares que banham de lágrimas as noites haitianas. As pessoas param em frente a ele, choram e rezam.
Esta imagem provoca o ser pensante. Por que foi assim? Por que aquele Crucifixo resistiu ao equivalente 30 bombas nucleares como a de Hiroshima? E cristo ficou ali. Parece ser Sexta-Feira Santa, em Jerusalém, no alto do Calvário.
Pus-me a pensar e contemplar a chocante cena. Abri as Sagradas Escrituras e pus-me a ouvir o Senhor. O Filho do Homem permaneceu naquele lugar, representado pela imagem, para dizer aos sofredores haitianos que eles não estão sozinhos. Jesus Cristo está crucificado com eles e eles com Cristo. "Suas dores são minhas dores; suas lágrimas são minhas lágrimas; seu sangue é o meu sangue. Estou na cruz despido, cm vocês que agora encontram despidos de tantos bens". Como disse o Profeta Isaías: "a verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores" (Is 53,4).
Os braços do Filho de Deus permaneceram abertos em Porto Príncipe para escolher o clamor de homens e mulheres transpassados pela lança da destruição, da fome, da sede, da perda de esperaças. O lado aberto do Cordeiro de Deus ficou ali, às margens da rua destruída, para dar descanso e consolo aos que ainda gritam por socorro. "Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso" (Mt 11,28). O crucificado resistiu às forças cósmicas para dar refúgio e abrigo aos que vagueiam pelas ruas sem destino.
O crucificado do Haiti foi mais forte que o terremoto para manter viva na mente e coração dos que por aquela rua passarem a boa notícia: "prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão" (Jo 15,13). Ali ficou uma imagem sagrada feita de matéria, porém ao seu lado, ficaram os corpos dos homens e mulheres, que viveram até o fim o mandamento novo. Eles foram imagens vivas do Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. Trata-se da Dra Zilda Arns e quinzer sacerdotes presentes naquela igreja no momento da tragédia. Eles estavam juntos porque queriam amar intensamente as crianças daquela nação que esperavam por vida e vida em abundância.
O crucifixo permanece erguido e o Espirito de Deus fala aos corações das pessoas de bem que salvam aquela sofrida gente. "Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidaste de mim" ... Todas as vezes que fizeste isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeste!" (Mt 25,35-36.40).
O crucificado ressuscitou e enviou do Pai o Espírito Santo renovando todas as coisas. Ele ficou naquela destruída rua pra dizer: "Coragem, eu venci o mundo" (Jo 16,33). Em meio ao caos da maior tragédia enfrentada pela ONU, há esperança, a luz dissipa as trevas em cada pessoa resgatada com vida, e em cada criança amparada. E o brilho volta a resplandecer nos olhos que agora choram os mortos. É a força criativa e reconstrutora do Amor estampada no Crucificado do Haiti.
Padre Francisco Agamenilton Damascena - Vice-reitor do Seminário Diocesano São José - Uruaçu/GO
Por, Caio Cesar de Aquino
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