domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ao mesmo ponto

O hábito de saborear a alva não ocorreu neste dia.

Sua vontade, foi de permanecer ali. Deitado. Relaxado. Em conflito com seus impulsos neurais.

O filme passava. Lembranças e verdades ofuscavam o escuro meio-consciente. Como flashs repentinos.

Estava certo que ali precisava continuar. Estava certo que era certo ali repousar em deleito.

Corpo imóvel e mente fixa no curto espaço de tempo entre o futuro que lhe aguardava: O despertar

Após um piscar de olhos surgiu o arrependimento de se entregar ao marasmo. A dor era aguda na boca do estomago. O seu pesar sobressaiu ao seu contentamento.

A confusa dor se desvaneceu no instante que a razão se fez presente. O tempo estava ao seu favor.Entretanto, Percebeu que precisava ser rápido. Como uma fiel criatura capitalista. Apesar de ser um abençoado domingo, era preciso otimizar o tempo naquele dia. Sua manhã fora perdida. Era preciso pensar e agir no ato da conclusão. E assim o fez.

Apanhou seus livros, tênis, calça, meias, camiseta. O dia Estava quente e ele, relativamente atrasado. Atrasado em sua mente, pois não havia prazo. Havia paranóia. Em pleno domingo, para ele, apenas para ele, havia um prazo. Resultado de um ser humano alienado e vítima de um mundo globalizado. Na verdade aquela ansiedade era fruto do seu contexto social mesclado com a inconformada noção de manhã perdida. Não estava acostumado com aquela dor.

Sentiu calor. Teve que voltar. Voltou. Desistiu da calça. No entanto, não havia bermuda. A solução foi lavar alguma que estava por ali, jogada e suja. O tempo nesse instante a favor, não mais estava. Sua cabeça o fez acelerar. Então cada minuto era segundo. A medida que o metabolismo cerebral acelerava a coordenação motora se confundia o fazendo esbarrar nas portas, topar nas hastes baixas dos moveis: cadeira, mesa, geladeira. Fechou os olhos, esqueceu a dor, pois sabia que a mesma era fruto da ansiedade vã que lhe aflorava. Portanto, sabia que era merecido, pois não precisava ser tão ligeiro a ponto de se machucar. Para facilitar o alívio da molesta, abriu a mesma geladeira e uma água tomou pra relaxar. Com ódio daquele móvel que seu caminho atrapalhou se pôs a sentar e sobre a mesma mesa a qual lhe atormentou a passagem, apoiou o copo já vazio. E hidrato voltou a andar.

Enquanto centrifugava uma única bermuda na expectativa de aliviar o calor que sua atmosfera afetava, preferiu um novo banho tomar. Dessa vez gélido.

Nesse instante entre sombras e luzes artificiais voltadas para si fechou os olhos e dialogou consigo. Se concentrando no frio e nas idéias. Como ele adora falar sozinho. Dizem que é um excelente exercício pra retórica. Principalmente diante do espelho. Esqueceu da bermuda molhada na máquina e decidiu fazer sua barba e na frente do espelho ensaiou um novo discurso. E com voz de deboche ensaiou até seus lábios ficarem roxos e os dedos enrugados. Ele era o mestre da persuasão

E então ao sair do banho, já na varanda com a bermuda semi-seca na mão se pôs ao Sol com frio e abismado com sua mente. Estava ele imóvel novamente, como aquele pedaço de pano. E mais uma vez em conflito cerebral. Entretanto,dessa vez, diferente de algumas horas atrás, o corpo sem o pijama, cobertor, cansaço, não mais ao leito, conservava-se na vertical.

Por, Caio Cesar de Aquino

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